Davi chegou em casa sentindo muita dor de cabeça. Tomou um remédio, deu um banho, comeu um lanche e lembrou que havia combinado de sair com Letícia. Porém, não estava disposto e ligou para desmarcar o encontro.
— Eu não estou me sentindo bem hoje, Letícia. Minha cabeça parece que vai explodir. Outro dia a gente marca de se encontrar. Realmente, hoje não serei uma boa companhia.
— Ah! Que pena, Davi. Mas compreendo. Se não melhorar, procure ir ao hospital, só não fique sentindo dor sem buscar atendimento.
— Pode deixar. Acredito que, após uma boa noite de sono, vou levantar novinho em folha amanhã. Um beijo.
— Outro para você, Davi. Até mais ver.
Davi desligou o telefone e logo pegou papel e caneta para escrever um novo verso:
"É como se o tempo fosse meu inimigo
E um grande zumbido perturbasse os meus ouvidos.
Na cabeça não há leveza,
O corpo geme de tanta estranheza
E a alma? Essa se abate, bem lá dentro, de tanta tristeza."
Ao terminar o verso, o semblante de Davi decaiu e ele adormeceu ali mesmo, debruçado sobre a mesa.
Ao amanhecer, seu telefone não parava de tocar. Era Samuel ligando, pois já eram nove horas da manhã e Davi ainda não havia chegado ao trabalho.
— Estou ligando para o Raul, e o Davi não atende.
— Será que aconteceu alguma coisa com ele? O Davi, com todo respeito, parece perturbado de espírito.
— Eu conheço o meu amigo, ele é um cara ótimo, mas tenho que concordar com você. Tem algo muito estranho com o Davi.
— O problema é que isso pode prejudicá-lo, né? Aqui no jornal sabemos que nem Lúcio nem Fred ficaram satisfeitos com a promoção que Moisés deu a ele.
— É verdade! Bom, vou ter que dar um pulo lá na casa dele. Se perguntarem por mim, diga que fui atrás de um anunciante.
— Ok.
Samuel saiu às pressas em direção à casa de Davi, mas não percebeu que Lúcio escutara toda a conversa.
— Então o poeta não veio trabalhar até agora? É... Achei que seria mais difícil tirá-lo daqui. Pelo visto, vai ser mais fácil ainda.
Tereza viu Lúcio observando Samuel sair apressado e perguntou:
— Onde o Samuel vai com toda essa pressa, Lúcio? Você pediu para ele ir a algum lugar?
— Não, mas ele está indo à casa do Davi para saber por que até agora ele não apareceu aqui na redação.
— E você acha que aconteceu alguma coisa grave com ele?
— Eu não acho nada, Tereza. Eu queria mesmo era nunca mais olhar para aquela cara de mosca morta do Davi.
— Por que tanto ódio dele assim, Lúcio?
— Eu não gosto do Davi, Tereza. Não gosto.
Samuel entrou em seu carro e rapidamente se dirigiu à casa de Davi.
Ao chegar, chamou várias vezes, mas como Davi não respondia, arrombou a porta. Procurou por toda a casa — sala, cozinha, banheiro, copa — e encontrou Davi no quarto, caído no chão, desacordado.
— Meu Deus! Davi! Acorda, Davi! Acorda!
Davi não respondeu, e Samuel rapidamente o levou para o hospital, onde foi internado para exames.
— Pelo amor de Deus, doutor Jorge. O que aconteceu com o meu amigo?
— Olha, ainda é cedo para dizer, mas tudo indica que o desmaio foi devido à tamanha dor de cabeça e febre. O corpo não aguentou. Os exames de sangue, fezes e urina estão ótimos.
— Eu não entendo, ultimamente o Davi tem andado tão estranho!
— Tenho minhas suspeitas, Samuel, mas acredito que seu amigo tenha uma depressão profunda. Se ele não tratar, ela pode acabar com a vida dele.
— Depressão, doutor? Não pode ser.
— Existem coisas dentro do ser humano que só quem sente sabe. Bom, é melhor esperar ele reagir aos remédios, a febre baixar e ele recuperar os sentidos. Assim, poderemos saber da boca dele o que aconteceu.
Continua...
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