segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

6º Capítulo da novela "Escritos da Alma"

 



Davi chegou em casa sentindo muita dor de cabeça. Tomou um remédio, deu um banho, comeu um lanche e lembrou que havia combinado de sair com Letícia. Porém, não estava disposto e ligou para desmarcar o encontro.

— Eu não estou me sentindo bem hoje, Letícia. Minha cabeça parece que vai explodir. Outro dia a gente marca de se encontrar. Realmente, hoje não serei uma boa companhia.

— Ah! Que pena, Davi. Mas compreendo. Se não melhorar, procure ir ao hospital, só não fique sentindo dor sem buscar atendimento.

— Pode deixar. Acredito que, após uma boa noite de sono, vou levantar novinho em folha amanhã. Um beijo.

— Outro para você, Davi. Até mais ver.

Davi desligou o telefone e logo pegou papel e caneta para escrever um novo verso:

"É como se o tempo fosse meu inimigo
E um grande zumbido perturbasse os meus ouvidos.
Na cabeça não há leveza,
O corpo geme de tanta estranheza
E a alma? Essa se abate, bem lá dentro, de tanta tristeza."

Ao terminar o verso, o semblante de Davi decaiu e ele adormeceu ali mesmo, debruçado sobre a mesa.

Ao amanhecer, seu telefone não parava de tocar. Era Samuel ligando, pois já eram nove horas da manhã e Davi ainda não havia chegado ao trabalho.

— Estou ligando para o Raul, e o Davi não atende.

— Será que aconteceu alguma coisa com ele? O Davi, com todo respeito, parece perturbado de espírito.

— Eu conheço o meu amigo, ele é um cara ótimo, mas tenho que concordar com você. Tem algo muito estranho com o Davi.

— O problema é que isso pode prejudicá-lo, né? Aqui no jornal sabemos que nem Lúcio nem Fred ficaram satisfeitos com a promoção que Moisés deu a ele.

— É verdade! Bom, vou ter que dar um pulo lá na casa dele. Se perguntarem por mim, diga que fui atrás de um anunciante.

— Ok.

Samuel saiu às pressas em direção à casa de Davi, mas não percebeu que Lúcio escutara toda a conversa.

— Então o poeta não veio trabalhar até agora? É... Achei que seria mais difícil tirá-lo daqui. Pelo visto, vai ser mais fácil ainda.

Tereza viu Lúcio observando Samuel sair apressado e perguntou:

— Onde o Samuel vai com toda essa pressa, Lúcio? Você pediu para ele ir a algum lugar?

— Não, mas ele está indo à casa do Davi para saber por que até agora ele não apareceu aqui na redação.

— E você acha que aconteceu alguma coisa grave com ele?

— Eu não acho nada, Tereza. Eu queria mesmo era nunca mais olhar para aquela cara de mosca morta do Davi.

— Por que tanto ódio dele assim, Lúcio?

— Eu não gosto do Davi, Tereza. Não gosto.

Samuel entrou em seu carro e rapidamente se dirigiu à casa de Davi.

Ao chegar, chamou várias vezes, mas como Davi não respondia, arrombou a porta. Procurou por toda a casa — sala, cozinha, banheiro, copa — e encontrou Davi no quarto, caído no chão, desacordado.

— Meu Deus! Davi! Acorda, Davi! Acorda!

Davi não respondeu, e Samuel rapidamente o levou para o hospital, onde foi internado para exames.

— Pelo amor de Deus, doutor Jorge. O que aconteceu com o meu amigo?

— Olha, ainda é cedo para dizer, mas tudo indica que o desmaio foi devido à tamanha dor de cabeça e febre. O corpo não aguentou. Os exames de sangue, fezes e urina estão ótimos.

— Eu não entendo, ultimamente o Davi tem andado tão estranho!

— Tenho minhas suspeitas, Samuel, mas acredito que seu amigo tenha uma depressão profunda. Se ele não tratar, ela pode acabar com a vida dele.

— Depressão, doutor? Não pode ser.

— Existem coisas dentro do ser humano que só quem sente sabe. Bom, é melhor esperar ele reagir aos remédios, a febre baixar e ele recuperar os sentidos. Assim, poderemos saber da boca dele o que aconteceu.


Continua...

Deixe nos comentários sua opinião sobre este  capítulo e compartilhe. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário