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terça-feira, 1 de setembro de 2020

3º Capítulo da novela "Escritos da Alma"



Lúcio  sempre sentiu incomodado com a presença de Davi no Jornal e se arrependeu amargamente de ter ensinado tudo ao rapaz quando o mesmo ainda era um estagiário.

_ Ele cresceu rapidamente aqui, sabe o serviço de todo mundo, daqui a pouco vai querer pegar o meu lugar.

_ Ah! Então é isso - disse Teresa - agora eu sei o porque de você querer tanto que o Davi não trabalhe mais aqui. E olha que foi você que ensinou tudo a ele.

_ Ensinei sim, eu queria prestígio com o chefão. Você mesmo sabe como ele é com os estagiários, sempre pensando que eles irão se tornar isso ou aquilo no futuro. Mas o Davi está indo rápido demais e eu vejo muito bem como o Moisés Vilar fica olhando para ele.

_ Por que então você não contou dos erros cometidos nas matérias?

_ Ora, eu disse, mas o Moisés Vilar ligou? Disse que são coisas que podem acontecer a qualquer um e tal.

_ E o que você vai fazer então?

_ Já disse, eu tenho umas ideias aqui na cabeça, mas vou melhorá-la. Enquanto isso, deixa o poeta poetizar. 

Davi ficou sem graça amanhã toda pelo ocorrido com Lúcio. Ele permaneceu mais calado, pensativo e focado em seu trabalho, quando lembrou que havia escrito um verso no restaurante no dia anterior e que não sabia onde estava e começou a vasculhar sua mochila.

_ O que você tanto procura nessa sua mochila Davi? - pergunto Raul - Parece que está procurando dinheiro!

_  É só um bilhete que achei que havia guardado aqui ontem, mas não o encontro.

_ Calma amigo - disse Samuel - com certeza é mais um versinho, não é? Davi, você está brincando com fogo.

_ Fique tranquilo Samuel, já lhe disse que o Lúcio não me assusta. 

_ Bom, eu vou indo nessa, vou almoçar agora. Vem comigo hoje Raul?

_ Não,  vou almoçar no "Casa Branca" mesmo. Obrigado pelo convite Samuel.

_ E você Davi? Vai ficar aí procurando esse tal papel?

_ Vou sim. Hoje estou sem apetite. Mande um abraço para a Letícia.

No restaurante...

_ Nossa amiga, parece que isso aqui não vai bombar hoje. Aquela empresa laticínios está fechada pois morreu um parente do dono e foi todo mundo dispensado, ficaram somente os que realmente não podem parar e...

_...Desculpa eu não prestei muita atenção no que você estava falando. Estou preocupada amiga, as entradas do restaurante, por mais que dá movimento, não é o suficiente para bancar as despesas e o meu medo é do Arnaldo ter que mandar alguém embora.

_ Ai vira essa boca pra lá. Eu não posso perder meu emprego, você sabe que eu tenho uma filha pra criar. Ela está morando com a vó, mas é por pouco tempo.

_ Pouco tempo amiga? Sua filha nunca morou com você. Vou te dar um conselho, resolve isso logo, porque quanto mais velha sua filha ficar, mais revoltada por você ter a "abandonado", ela vai ficar. Bom vou lá dentro vê se a comida já está liberada para trazermos.

Kamila ficou ali pensativa e logo que Letícia sumiu lá para cozinha a dentro foi até a sua agenda e pegou o versinho que sua amiga havia achado no chão do restaurante e encantada mais uma vez com as palavras suspirou:

_ Que romântico! Meu Deus, quem será esse poeta que escreve essas belezuras? Bom, pode ser poeta mulher. Nossa, aí complicou pra mim e afinal...

Samuel entra no restaurante, vai até o balcão e encontra Kamila falando sozinha.

_ O que é isso Kamila? Deu pra falar sozinha agora, é?

_ Sabe o que é Samuca, olha esse versinho que achamos no chão do restaurante, vê se não é a coisa mais romântica do mundo.

_ Bonito mesmo, mais isso aí é do...

Eles são interrompidos por uma mulher cheia das poses que entra no estabelecimento arrastando uma mala.

_ Um absurdo! Numa cidade dessa não ter um táxi para poder me levar até um hotel. 

Samuel e Kamila se olham e observam a mulher que, nervosa, começa a dizer:

_ Ei! Algum de vocês dois funcionários não irá vir me atender? Vão ficar me olhando com cara de paisagem? 

Letícia aparece segurando uma travessa de lasanha nas mãos, coloca em cima do balcão e pergunta:

_ Mas que gritaria é esse aqui gente, o que está acontecendo?

_ Aquela mulher ali que chegou gritando - justificou Kamila - nós fizemos nada.

_ Calma minha senhora - disse Letícia - nós...

_ ...Senhora? Olha pra mim. Sou uma mulher de classe, uma senhorita da mais alta categoria da Europa.

_ Ah sim, tudo bem, mas assente aí que quando o restaurante abrir definitivamente você será atendida (Letícia não esticou assunto, deu às costas, pegou a travessa de lasanha e retornou para cozinha).

_ Que mulher estranha - sussurrou Samuel .

_ Verdade. Já vi que hoje vai ser daqueles dias.

Continua...


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domingo, 23 de agosto de 2020

1º Capítulo da novela "Escritos da Alma"

 

Coronel Gaspar, 23 de agosto de 1994

Davi, venho por meio desta carta lhe dizer o quanto estou morrendo de saudades de você. Sei que ainda és pequeno para entender as coisas da vida, mas estou aqui para lhe dizer que a mamãe lhe ama muito e que eu só estou longe de você por que não tenho condições no momento de cuidar de ti, como você merece. Meu filho querido, meu presente de Deus, a vovó Selma foi quem Deus colocou no meu caminho para poder cuidar de você. Não tenho como ficar ligando todo dia, o cartão de telefone é caro e a mamãe não tem o aparelho fixo em casa, na verdade filho, nem casa ainda tenho, estou morando com uma amiga, a Geovana. Ela é super parceira, compreensiva e tem me dado uma força danada aqui em São Paulo. Filho, se eu não conseguir melhorar vou embora com ela para fora do Brasil, vou para Portugal. Vou me embarcar clandestinamente em um navio com o meu namorado. Queria ir lhe ver antes, pois tudo indica que estarei partindo mesmo. 

Você só tem quatro aninhos meu filho, mas eu não tenho recurso algum de ficar contigo. Aqui na cidade grande é tudo difícil, tudo muito caro. Eu prometo que vou juntar muito dinheiro para poder lhe dar um futuro melhor. Eu te amo. Fica com Deus. A vovó Selma vai ler essa carta para você. Te amo, te amo.

 

Abraços.

Luíza Vidal de Rabelo


Ceú Azul, 23 de agosto de 2010

_ O que você está fazendo com essa carta nas mãos de novo Davi Emanuel? 

_ Só estou lendo novamente vó. A minha mãe nunca voltou, nunca deu notícias. Nem lembro o rosto dela mais. Cansei de esperar vó. Já se passaram 16 anos e justo hoje, eu decidi esquecê-la de uma vez por todas.

_ Eu deveria ter evitado te levar na rodoviária aquele dia que ela decidiu ir embora com o aquele mecânico vagabundo. Só de lembrar a cena de você chorando e gritando por ela meu coração corta. E ela, com desculpa de tentar uma vida melhor, só mandou essa carta e nunca mais pisou aqui de novo. Uma filha ingrata que só me deu desgosto, tirando você que és para mim, uma bênção de Deus.

_ Eu vou seguir a minha vida agora vovó, focando em meus sonhos e naquilo que acredito. A ausência de minha mãe, foi preenchida pela senhora e não quero mais ter esperanças de ver alguém que se quer lembra de mim.

_ Prepara meu filho, o mundo lá fora não é brinquedo. Não tenho muita leitura, mas sei que as coisas não são fáceis. Não estarei aqui para sempre com você, mas espero que você seja feliz. Eu... Eu ... Eu... Eu te amo Davi.. Eu te amo.

_ Vó! Vó! Acorda vó! Não me deixe! Não me deixe!


Céu Azul, 23 agosto de 2020

_ Dez anos que perdi minha vó, Samuel. Era um dia como esse: frio, triste e choroso. Lá estava eu segurando a carta que minha mãe escrevera para mim antes de sumir no mundo. De repente, minha vó começou a passar mal e faleceu alí, bem na frente.

_ Sei que você amava demais a sua vó, mas será preciso se desprender um pouco dessas lembranças, pois não estão lhe fazendo muito bem Davi. Bora trabalhar, a redação aqui do Jornal "Expresso" está uma loucura com as notícias que estão chegando sobre esse novo vírus. Você tem um matéria para postar.

_ Está bem Dr. Samuel Andrade. Você é meu melhor amigo, obrigado por sempre me ouvir. Vou lá buscar as notícias que o Lúcio trouxe.

_ Ok.

Davi vai até a sala do jornalista Lúcio Moura e Samuel, que se assenta ao seu lado na redação principal, vê um papel em cima da mesa de seu amigo e, curioso, lê.

 

 "Ela é transparente, sensível e frágil.

Cheia de talvez. Calada, ora barulhenta.

Perturba-se dentro do corpo,

A alma, sabe qual é o seu desgosto." 

(Davi Emanuel)

 _ O Davi escreve umas coisas estranhas, que parece que está sentindo tudo isso dentro dele. Será que ele precisa de ajuda? Não, um cara formoso, inteligente, só deve ter escrito isso por escrever mesmo.

 Samuel largou o papel onde estava e voltou ao seus afazeres.

Daví, conseguiu terminar seu trabalho e, juntamente com Samuel, foi almoçar no restaurante próximo ao Jornal.

_ Esse povo todo aqui? Ninguém merece. Não vamos pegar comida boa.

_ Calma Samuel, vai dar tudo certo. Tem comida para todo mundo, não é mesmo Letícia?

_ Claro! Hoje estamos com uma super promoção. Por isso que a casa está lotada, mas como vocês são nossos clientes fixos, reservei essa mesa para os dois. E serão atendidos primeiro.

_ Tá vendo Samuel, por isso que eu gosto dessa menina. Ela sabe cativar um cliente.

_ Gosta? Gosto como Davi?

_ Gosto, simplesmente gosto. E, meu caro Samuel, não é pouco, é muito.


Continua....

 

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